sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sou uma galinha por querer conhecer dois caras ao mesmo tempo?


Tempos contemporâneos. Nosso tempo de hoje, filho dos ontens e pai dos amanhãs.
Possivelmente estejam errados aqueles que acreditam que somente o macho esteja em crise por conta da mudança do comportamento das mulheres.

Meu amigo me contou um episódio que me fez desconfiar, uma vez mais, da possibilidade de afirmarmos algo com tanta certeza que não caiba sequer uma sombrinha de dúvida ou alternativa.  

Pois bem, em uma certa noite, uma amiga do meu amigo fez contato telefônico com ele. Ela precisava de um ouvido amigo naquele momento. Outra característica atual: na dificuldade de emprestarmos os ombros amigos, ou quaisquer outras partes do corpo, presencialmente, vamos de telefone, e-mail, redes sociais e assim por diante. A tecnologia criando mais um paradoxo nas relações interpessoais: aproximações com cara de distanciamentos ou distanciamentos com cara de aproximações?
De qualquer forma, contou-me o meu amigo, essa amiga estava vivendo um dilema sentimental. Antes da ação dramática, um pouco mais sobre a protagonista...

Moça bonita, atraente e profissionalmente bem encaminhada, ela vinha, há algum tempo, buscando um relacionamento que pudesse ser classificado como estável. Parecia estar cansada das alcunhas que se emprestam às modalidades menos convencionais, ainda que seculares, de encontros íntimos entre seres humanos. Amizade colorida, affair, romance, lance, caso, PA (quem sabe o que é, já sabe, quem não sabe, não saberá por mim... pelo menos não por ora). Tendo já passado por pouco da casa das trinta primaveras, ela queria, como diz o populacho, sossegar o facho. Latejava nela o desejo de namorar. Aquela coisa mais tradicional, de pedir em namoro, estabelecer uma rotina pretensa e potencialmente saudável, sair de mãos dadas, sorvete na praça (ainda existe sorveteria em praça?), cinema no shopping, tardes de domingo na casa da sogra vendo Faustão etc.

Depois de algum tempo solteira, um par de anos, mais ou menos, ela trouxe uma situação de vida íntima que demandava reflexões e atitudes. Contou ela ao meu amigo que, após tantos e tantos meses de reclamações por conta da frágil oferta de homens qualificáveis para uma relação como a descrita, ela finalmente estava empolgada com algo que acontecera. No entanto, rapidamente a empolgação virou ansiedade. O motivo? Apareceram dois fortes candidatos em menos de um mês, ambos com potencial de avançar na estrada do seu coração. 

E agora? O que fazer? Depois da estiagem, a invernada tinha chegado. Depois da tempestade sem chuvas de beijos, a bonança trouxe à sua porta dois rapagões que despertaram sua atenção de maneira intensa.

Meu amigo, prontamente, ao ouvir aquele relato, logo disse que ela era uma sortuda, e que, afinal, poderia se acertar com alguém bacana. No primeiro momento, a lógica da resposta acalmou a amiga do meu amigo. Porém, instantes depois, ela foi visitada por sua herança moral, por seus princípios e valores. Certos ou errados, quem ousa julgar? O fato é que ela respondeu que estava se sentindo muito "danadinha, serelepe, solta, fácil", para não usar termos menos elegantes, por estar começando a se envolver com dois caras, simultaneamente. No auge de seu constrangimento, ela teria dito ao meu amigo:

- Você não acha que eu sou uma vaca por isso, né?

Naquele momento, os ouvidos do meu amigo, que estavam meio distraídos (algo recorrente em muitos dos quase-diálogos humanos), ouriçaram-se feito orelhas de cachorro pastor alemão! Afinal, a sua amiga estava confessando algo deveras instigante. Ele não resistiu e foi logo perguntando:

- E aí, já conheceu o potencial dos dois?

Pelo que eu conheço do meu amigo, ele não estava querendo saber do número de QI deles, mas, sim, da performance de cada um no "vamos ver!". Só que ela respondeu de forma a colocá-lo em seu devido lugar, assim como lustrar a sua honra:

-Ei, calma aí. Não é porque eu disse que estou conhecendo dois caras que eu preciso ter transado com os dois.
- Não?, retrucou o meu amigo.
- Claro que não. Eu não consegui avançar com nenhum dos dois. Mas, ao mesmo tempo, eu precisaria fazer um test drive também nesse departamento.
- Concordo contigo. Se você seguir adiante por mais um tempo com os dois, ficará difícil segurar. Eles já tentaram?
- Já. E eu só me fazendo de boba, escapando cada dia com uma desculpa diferente. Aliás, foi por isso que eu te liguei. O que eu faço?
- Olha, minha cara. Acho que você tem que seguir conhecendo os dois um pouco mais. Se você quiser experimentar o pacote completo, sinta se vai ficar bem com isso. Se não quiser experimentar tudo com os dois, experimente primeiro com aquele que você estiver curtindo mais. Daí, se for bom, você nem precisa provar o outro. Entendeu?

Ela respondeu que sim, que era uma boa estratégia. Antes de desligar, ela perguntou novamente:

- Eu não sou uma galinha por isso, né?

Meu amigo nem respondeu, deixando a risada cumprir o papel de resposta com alto teor de nebulosidade. Pura provocação dele. Pelo que eu conheço de suas crenças em relação à sexualidade humana, meu amigo é bastante bem resolvido. Está a fim de dar, dê. Está a fim de receber, receba. Está a fim de ousar entre quatro paredes, ouse. Só não prometa o que não pode cumprir, não cobre o que não lhe foi prometido e não pule do trampolim se tem mais medo de cair do que de voar.

Dias depois, veio um novo capítulo da história. A amiga do meu amigo telefonou para ele com uma atualização. Ela havia tomado uma decisão e queria compartilhar. Antes que ela começasse, no entanto, ele mandou uma pergunta:

- E aí, gostou mais de qual?

Como a pergunta fora feita com uma explícita malícia, ela cortou o clima de sacanagem e começou a explicar. O passar dos dias, o bom e velho tempo, mostrou a ela qual dos dois era o mais indicado. Ela nem precisou ir, digamos, a fundo, para descobrir com qual sentia mais sintonia.

Ela decidira, no trato cotidiano com os dois, se respeitar. Embora os pretendentes tivessem promovido, com mais ou menos sutileza, oportunidades para um encontro mais íntimo, ela esperou um pouco mais para saber o que queria mesmo fazer. Pelo que ela contou ao meu amigo, aquele era o jeito dela. Sem grandes defesas de algum tipo de moralismo barato, ela simplesmente se respeitou, assim como afirmou respeitar as moças que preferem ir logo ao prato principal, para depois petiscar.

O curioso, contou-me meu amigo, foi o que fez a sua amiga decidir por um e se afastar do outro:

- Algo que a gente via acontecer mais no sentido inverso, disse-me ele.

Um dos rapazes que cortejavam a amiga do meu amigo começou a grudar muito. Eram diversas mensagens todos os dias, além dos e-mails, posts nas redes sociais e telefonemas. O auge do "grudentismo" se deu com uma ligação numa quinta-feira, quando ela ouviu dele que o final de semana todo estava programado, pois eles iriam para a praia e não sei aonde e não sei mais o quê. Ela ficou arrepiada, só que no mal sentido. Sentiu-se pressionada, sufocada, cercada... E resolveu correr. Disse ao meu amigo:

- Eu senti na pele o que eu costumava fazer quando eu namorava.

No final do papo, ela confidenciou ao meu amigo que a sua escolha fora absolutamente acertada. As várias semanas de espera, somadas à aproximação e sintonia gradativas, prepararam o terreno para um encontro deliciosamente excitante entre corpos e sentimentos. Parece que até hoje estão colocando o "papo" em dia... rsrs

Um comentário:

  1. Frase que evita uma DR "Só não prometa o que não pode cumprir, não cobre o que não lhe foi prometido e não pule do trampolim se tem mais medo de cair do que de voar." Muito bom!!!!

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