sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sou uma galinha por querer conhecer dois caras ao mesmo tempo?


Tempos contemporâneos. Nosso tempo de hoje, filho dos ontens e pai dos amanhãs.
Possivelmente estejam errados aqueles que acreditam que somente o macho esteja em crise por conta da mudança do comportamento das mulheres.

Meu amigo me contou um episódio que me fez desconfiar, uma vez mais, da possibilidade de afirmarmos algo com tanta certeza que não caiba sequer uma sombrinha de dúvida ou alternativa.  

Pois bem, em uma certa noite, uma amiga do meu amigo fez contato telefônico com ele. Ela precisava de um ouvido amigo naquele momento. Outra característica atual: na dificuldade de emprestarmos os ombros amigos, ou quaisquer outras partes do corpo, presencialmente, vamos de telefone, e-mail, redes sociais e assim por diante. A tecnologia criando mais um paradoxo nas relações interpessoais: aproximações com cara de distanciamentos ou distanciamentos com cara de aproximações?
De qualquer forma, contou-me o meu amigo, essa amiga estava vivendo um dilema sentimental. Antes da ação dramática, um pouco mais sobre a protagonista...

Moça bonita, atraente e profissionalmente bem encaminhada, ela vinha, há algum tempo, buscando um relacionamento que pudesse ser classificado como estável. Parecia estar cansada das alcunhas que se emprestam às modalidades menos convencionais, ainda que seculares, de encontros íntimos entre seres humanos. Amizade colorida, affair, romance, lance, caso, PA (quem sabe o que é, já sabe, quem não sabe, não saberá por mim... pelo menos não por ora). Tendo já passado por pouco da casa das trinta primaveras, ela queria, como diz o populacho, sossegar o facho. Latejava nela o desejo de namorar. Aquela coisa mais tradicional, de pedir em namoro, estabelecer uma rotina pretensa e potencialmente saudável, sair de mãos dadas, sorvete na praça (ainda existe sorveteria em praça?), cinema no shopping, tardes de domingo na casa da sogra vendo Faustão etc.

Depois de algum tempo solteira, um par de anos, mais ou menos, ela trouxe uma situação de vida íntima que demandava reflexões e atitudes. Contou ela ao meu amigo que, após tantos e tantos meses de reclamações por conta da frágil oferta de homens qualificáveis para uma relação como a descrita, ela finalmente estava empolgada com algo que acontecera. No entanto, rapidamente a empolgação virou ansiedade. O motivo? Apareceram dois fortes candidatos em menos de um mês, ambos com potencial de avançar na estrada do seu coração. 

E agora? O que fazer? Depois da estiagem, a invernada tinha chegado. Depois da tempestade sem chuvas de beijos, a bonança trouxe à sua porta dois rapagões que despertaram sua atenção de maneira intensa.

Meu amigo, prontamente, ao ouvir aquele relato, logo disse que ela era uma sortuda, e que, afinal, poderia se acertar com alguém bacana. No primeiro momento, a lógica da resposta acalmou a amiga do meu amigo. Porém, instantes depois, ela foi visitada por sua herança moral, por seus princípios e valores. Certos ou errados, quem ousa julgar? O fato é que ela respondeu que estava se sentindo muito "danadinha, serelepe, solta, fácil", para não usar termos menos elegantes, por estar começando a se envolver com dois caras, simultaneamente. No auge de seu constrangimento, ela teria dito ao meu amigo:

- Você não acha que eu sou uma vaca por isso, né?

Naquele momento, os ouvidos do meu amigo, que estavam meio distraídos (algo recorrente em muitos dos quase-diálogos humanos), ouriçaram-se feito orelhas de cachorro pastor alemão! Afinal, a sua amiga estava confessando algo deveras instigante. Ele não resistiu e foi logo perguntando:

- E aí, já conheceu o potencial dos dois?

Pelo que eu conheço do meu amigo, ele não estava querendo saber do número de QI deles, mas, sim, da performance de cada um no "vamos ver!". Só que ela respondeu de forma a colocá-lo em seu devido lugar, assim como lustrar a sua honra:

-Ei, calma aí. Não é porque eu disse que estou conhecendo dois caras que eu preciso ter transado com os dois.
- Não?, retrucou o meu amigo.
- Claro que não. Eu não consegui avançar com nenhum dos dois. Mas, ao mesmo tempo, eu precisaria fazer um test drive também nesse departamento.
- Concordo contigo. Se você seguir adiante por mais um tempo com os dois, ficará difícil segurar. Eles já tentaram?
- Já. E eu só me fazendo de boba, escapando cada dia com uma desculpa diferente. Aliás, foi por isso que eu te liguei. O que eu faço?
- Olha, minha cara. Acho que você tem que seguir conhecendo os dois um pouco mais. Se você quiser experimentar o pacote completo, sinta se vai ficar bem com isso. Se não quiser experimentar tudo com os dois, experimente primeiro com aquele que você estiver curtindo mais. Daí, se for bom, você nem precisa provar o outro. Entendeu?

Ela respondeu que sim, que era uma boa estratégia. Antes de desligar, ela perguntou novamente:

- Eu não sou uma galinha por isso, né?

Meu amigo nem respondeu, deixando a risada cumprir o papel de resposta com alto teor de nebulosidade. Pura provocação dele. Pelo que eu conheço de suas crenças em relação à sexualidade humana, meu amigo é bastante bem resolvido. Está a fim de dar, dê. Está a fim de receber, receba. Está a fim de ousar entre quatro paredes, ouse. Só não prometa o que não pode cumprir, não cobre o que não lhe foi prometido e não pule do trampolim se tem mais medo de cair do que de voar.

Dias depois, veio um novo capítulo da história. A amiga do meu amigo telefonou para ele com uma atualização. Ela havia tomado uma decisão e queria compartilhar. Antes que ela começasse, no entanto, ele mandou uma pergunta:

- E aí, gostou mais de qual?

Como a pergunta fora feita com uma explícita malícia, ela cortou o clima de sacanagem e começou a explicar. O passar dos dias, o bom e velho tempo, mostrou a ela qual dos dois era o mais indicado. Ela nem precisou ir, digamos, a fundo, para descobrir com qual sentia mais sintonia.

Ela decidira, no trato cotidiano com os dois, se respeitar. Embora os pretendentes tivessem promovido, com mais ou menos sutileza, oportunidades para um encontro mais íntimo, ela esperou um pouco mais para saber o que queria mesmo fazer. Pelo que ela contou ao meu amigo, aquele era o jeito dela. Sem grandes defesas de algum tipo de moralismo barato, ela simplesmente se respeitou, assim como afirmou respeitar as moças que preferem ir logo ao prato principal, para depois petiscar.

O curioso, contou-me meu amigo, foi o que fez a sua amiga decidir por um e se afastar do outro:

- Algo que a gente via acontecer mais no sentido inverso, disse-me ele.

Um dos rapazes que cortejavam a amiga do meu amigo começou a grudar muito. Eram diversas mensagens todos os dias, além dos e-mails, posts nas redes sociais e telefonemas. O auge do "grudentismo" se deu com uma ligação numa quinta-feira, quando ela ouviu dele que o final de semana todo estava programado, pois eles iriam para a praia e não sei aonde e não sei mais o quê. Ela ficou arrepiada, só que no mal sentido. Sentiu-se pressionada, sufocada, cercada... E resolveu correr. Disse ao meu amigo:

- Eu senti na pele o que eu costumava fazer quando eu namorava.

No final do papo, ela confidenciou ao meu amigo que a sua escolha fora absolutamente acertada. As várias semanas de espera, somadas à aproximação e sintonia gradativas, prepararam o terreno para um encontro deliciosamente excitante entre corpos e sentimentos. Parece que até hoje estão colocando o "papo" em dia... rsrs

quarta-feira, 25 de julho de 2012

"Entre o jardim e o mar", homenagem ao aniversário da minha filha



Olá! Tudo de bom?
Hoje pedi licença ao meu amigo para não falar de algo a respeito de sua vida.
Tenho um motivo de alta nobreza: é o aniversário da minha filha! Eba! Treze anos de vida celebrados nesta data querida.
Assim, dedico a ela as palavras a seguir, escritas pelo meu coração. Te amo, filha!





Entre o jardim e o mar
Entre a semente e a vela
Um dia você chegou 
E me acordou, mocinha bela
O encontro de um quase menino
Com a pequena de cachos dourados
Transformou o caminho em destino
Fez da vida um navio encantado
Hoje você faz treze anos
Quantas vezes cabe num poema improvisado
As rimas que brotam de um sincero obrigado?
Obrigado, minha flor 
Pelas sementes que espalhou
Obrigado, alma linda
Pelos sorrisos que animou
Obrigado, meu amor
Por me aceitar como sou
Às vezes, mesmo sem você perceber
Este palhaço precisa se recolher
Mas hoje eu quero te contar
Que você está sempre comigo
Presente maior é poder te amar
Como pai e, principalmente, amigo
Acho que você já entendeu
Mas não custa repetir
Cada dia com você
É um baú de motivos pra sorrir
Talvez não seja indicado 
Pra qualidade da escrita
Insistir na repetição
Mas eu quero te dizer obrigado
Quantas vezes mandar meu coração 
Parabéns, parabéns
No dia em que você chegou
Começou um vai-e-vém
O menino virou homem
O homem virou menino
Nesse mar de possibilidades
Quero sempre o seu sopro em minha vela
Quero você feliz, minha linda Isabela

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sala de espera do Dr. King Kong, ou ainda, às vésperas de pagar um mico






Imagino que você já tenha passado por isso. 
Meu amigo também já passou. Na verdade, isso aconteceu hoje com ele. Após o episódio, resolveu me ligar pra compartilhar.
Após ouvi-lo, decidi nomear a experiência que ele viveu como "Sala de espera do Dr. King Kong".


Antes das 8 horas o telefone celular dele tocou. Depois de um final de semana de trabalho,  ele ainda estava dormindo. Não que se trate de uma prática tão pouco usual, ou seja, dormir até às 8 da manhã é algo recorrente em sua vida. Como forte argumento, ele sempre diz que funciona melhor à noite, inclusive pra trabalhar. 
Deixando a sessão de crítica pra depois, o fato é que o telefone tocou e ele resolveu atender de pronto. 
Isso não se faz.


Do outro lado da linha, uma cliente começa a falar sobre a possibilidade de confirmação de uma reunião. 
A cabeça do meu amigo ainda estava em "estado de economia de energia", mesclando trechos de um sonho já esquecido com os dizeres atuais que chegavam pelo telefone.
Por isso chamei o episódio de "Sala de espera do Dr. King Kong". Foi por pouco, mas muito pouco, que ele não pagou um senhor mico. 


Quando ela perguntou se seria possível fazer uma reunião com ele hoje, a confusão mental predominante o motivou a responder: "Como assim? Hoje é sábado!". 
Ele tinha certeza que era sábado. Por quê? Ah, sei lá, pergunte ao Freud ou ao Jung.
Só sei que, conforme a conversa fluiu e ele foi acordando, foi-se dando conta de que realmente foi na "traaaave", quase um golaço da patetice humana. 
Pensa numa situação ridícula: a cliente, ligada no 220 v, querendo marcar uma reunião com urgência, e o prestador de serviços, do outro lado da linha, achando que segunda-feira é sábado. No mínimo um débito de 50% da confiança e respeito poderia ter ocorrido sem choro nem vela.


Meu amigo ainda me lembrou que ele é um fervoroso adepto do pensamendo de L. Fernando Veríssimo, quando ele diz que "só é livre, verdadeiramente livre, quem não tem medo do ridículo". Mas o ridículo maior ele já tinha feito, ou seja, tentar fazer de conta, inclusive com a empostação da voz, que estava acordado há horas, e tentar fazer o interlocutor crer que ele não estava dormindo. O quinhão de ridículo já estava pago.
Aliás, antes de terminar a ligação, a cliente carimbou o recibo do ridículo. Ao se despedir, ela disse "desculpe-me por ter te acordado". Fon.


No entanto, e felizmente, ele consegui evitar o crédito mais significativo ao símio. 
Sendo assim, cuidado, muito cuidado, ao decidir atender ao telefone sem uma verificação anterior do estado de capacidade e lucidez mental. 
Você pode criar problemas sérios para a sua vida pessoal, profissional e social. 
Afinal, nem sempre (ou quase nunca) o que, ou ainda mais perigoso, quem, habita os seus sonhos, te liga às 8 horas da madrugada. 
Ufa!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Eu também tô com bafo?





Avestruz, bangalô três vezes! 
Olá, você que também tem um amigo que te dá um trabalhão, mas que no fundo é bastante bem quisto, ainda que esquisito!


Pois é, meu amigo me contou mais uma situação delicada. Talvez você já tenha passado por algo do gênero. Já tem gente me perguntando no petit comite se eu nunca falarei sobre as minhas próprias histórias. Como eu já disse, este espaço é uma homenagem ao meu amigo, e como eu busco ser, na medida do possível e do desejável, coerente com as minhas propostas, deixarei minha vaidade de lado para aplicar toda a minha energia narrativa no compartilhamento das agruras e alegrias do meu bródi.


Sendo assim, volto ao episódio que acabou definido pelo seu protagonista como "boca de bueiro". Perdoe-me os termos pouco científicos e elegantes que por ventura ilustrarão essas páginas virtuais. É que o meu amigo carece, por assim dizer, de um certo lustre comportamental. Ou ainda, de um verniz da marca "Danuza Leão". Ele é bruto, quase um Shrek da vida real (sem querer ofender o ogro simpático e bonachão com a comparação de última hora). Ele mesmo se gaba disso. Rabiscou na certidão de nascimento que o seu primeiro berro de vida se deu em uma parca estrebaria no interior de um rincão qualquer desse Brasilzão, instantes depois de rasgar o ventre materno e dizer "qual é? qual foi?". Como prova, adotou há muito tempo como desodorante exclusivo o "tres brut de marchand", que ele traduz como "trem bruto de machão". Quem ousa argumentar frente a tamanho requinte, glamour e envergadura estilística? Que seja, então, "Boca de bueiro" o tema central deste papo. 


Certa vez, conta meu amigo, ele convidou uma beldade para sair. Nas palavras dele, a mulher não era de parar o trânsito. Isso qualquer funcionário da CET ou batidinha de carro faz. A mulher era de parar o planeta, o Sol e todas as estrelas da Via Láctea. Seria ela o verdadeiro Fenômeno, e não o rechonchudo artilheiro aposentado em solo corintiano. Tipo de mulher que faz a alegria da rapaziada tanto quando está indo quanto voltando, provocando tsunamis hormonais e deslocamento de massas (maiores e menores) em partes específicas das vestes masculinas.


Quando ele a viu pela primeira vez, até pra santo ele fez promessa, ainda que a última vez que ele tenha pisado em uma igreja tenha sido na primeira comunhão. Ou crisma. ele não sabe a diferença, só sabe que não vai à igreja desde que o Papa João Paulo tinha cabelos pretos. Em casamento de amigo, ele sempre tem uma desculpa pra ir direto pra festa. Difícil discordar dele nesse quesito. De qualquer forma, prometeu que ficaria 2 meses sem beber cerveja caso aquele avião, boeing interplanetário, aceitasse seu convite pra um happy hour. Como ele é malandro, fez o pedido a um santo pouco concorrido. Disse-me: 


- Eu, que não sou bobo, nem nada, vou é pedir pra São Elesbão. Todo mundo foca no Santo Antônio, São Judas, São José, São Paulo, e daí eles ficam sobrecarregados. Entre santo também rola estresse, meu amigo. Eu vou prestigiar aquele que tá mais sussa.


Parece que a opção foi acertada, porque a bendita deusa de coxas, seios e bunda esculpidas por Michelângelo, e revisadas por Oscar Niemeyer em parceria com Auguste Rodin, aceitou o convite pro happy hour. Antes que alguém me acuse de ignorância histórica, acreditando que Niemeyer e Rodin não podem ter trabalhado juntos numa obra, eu afirmo: pasme você, mas o arquiteto brasileiro foi bedel na escola que Rodin estudou. Dizem até que foi o brasileiro que apresentou ao francês a linda Camille Claudel!


O que o meu amigo não contava era com o grau de atenção do santo. Porque ele, muito serelepe e metido a espertalhaço, bebeu uns gorós do suco de cevada antes do prazo com o qual se comprometera junto às instâncias elevadas do plano celestial. São Elesbão não se fez de rogado e mandou ver na punição. Só isso explica o perrengue pelo qual passou o meu amigo, a saber.


Happy hour marcado. Carro lavado. Roupa engomada. Perfume espalhado por todas as partes, em especial por onde ele nutria esperanças profanas que a procissão passasse naquela noite. Garçom avisado pra separar a melhor mesa e deixar a cerva vestida de noiva pra receber aquela mulher que se o destino permitisse e o juízo do meu amigo falhasse, se tornaria a sua noiva eterna. Por ela, disse-me ele, pesquisou até o preço do cento da coxinha com a Dona Creuza e da caixa do vinho Liebfraumilch (quem nunca bebeu achando que era vinho de qualidade que atire a primeira pedra!) para a eventualidade de um casório aos moldes antigos, ou seja, com comes e bebes antes dos comes e bebês.


Como manda o figurino, quase que pontualmente (afinal, o trânsito de São Paulo é osso) ele chega ao endereço combinado. Como moça recatada que parecia ser, não deu o endereço de casa. Muita intimidade pro primeiro momento, justificou ela. O importante era que ele, finalmente, desafiaria a física e colocaria dentro de um singelo automóvel um inacreditável aeroplano multiturbinado. Quando a avistou, estacionou, saltou velozmente pela porta do motorista e correu para abrir a porta do passageiro. Antes dos desejos satisfeito, dizem as más línguas, e pesquisas de pouca respeitabilidade acadêmica, que o grau de cavalheirismo do macho se amplia consideravelmente. Alguns chegam até a afirmar que, quando um homem abre a porta do carro pra mulher, um dos dois é novo: o affair ou o carro. Teorias à parte, naquele momento da história o par de glúteos mais redondo que os olhos do meu amigo tinham vistos já esquentavam o banco do seu carro. 


Papo vai, papo vem. Abrir e fechar de semáforos. A cada paradinha do carro, um olhar de soslaio para conferir se era tudo aquilo mesmo ou a carência tinha prejudicado suas capacidades oftalmológicas. Que nada! Era tudo aquilo e muito mais. Ele só começou a estranhar que ela não era de muitas palavras. Meu amigo já estava esgotando o seu arsenal de gracejos e ela só no "sorrisinho blasê". Do estranhamento à angústia não demorou muito. E da angústia ao nervosismo, quase emputecimento, também não. Depois de chegarem ao bar, beberem e comerem por quase duas horas, ele podia contar nos dedos as palavras que ela tinha deixado escapar por aqueles lábios vermelhos e com tanta carne que poderia interferir na balança comercial caso ela resolvesse exportar tudo de uma vez. Como ele a desejava muito, o emputecimento não tirou o seu foco, e ele tomou a decisão de lançar o "approach" gatuno do nordeste, com uma sequência de movimentos que começa com um enroscar de nariz no pescoço da vítima e termina com um belo "cheiro" no cangote, precisamente localizado a 5 centímetros da nuca feminina. 


Para felicidade dele, ela recebeu bem o golpe "donjuanesco". Aliás, meu amigo fica muito bravo quando o comparam a Don Juan. Afinal, segundo ele, na escola que esse tal de Don Juan frequentou ele foi é professor. Na verdade, mais que isso. Ele foi professor e morre de vergonha da péssima performance de seu pupilo relapso. 


Voltando ao momento do pós-approach gatuno do nordeste, preciso enfatizar que aí se deu a tragédia que justifica essa lenga-lenga de milhares de caracteres. Quando ele deu marcha ré no movimento inicial, tendo seus dedos enrolados nos cabelos dourados dela (parece que o nome do corte é alguma coisa californiana, ou algo do gênero), deslocando sua face no sentido de um encontro frente a frente com ela, um sopro do inferno o atingiu. Naquele que seria o prólogo de uma relação longa e feliz, o prenúncio de sua entrada no paraíso amoroso, o ar que saiu de dentro da boca dela, quando ela a abriu para aceitar o beijo entusiasmado dele, foi como um um pênalti perdido pelo time do coração aos 47 do segundo tempo. Segundo ele, e ele faz questão de frisar que não está exagerando, parecia que ela tinha comido um urubu atropelado. Ele, que já encarara, em situações anteriores, encontros amorosos com pessoas de layout bem pouco apurado, me confidenciou que, frente ao bafo sabor enxofre, não teve outra opção senão recuar.


Obviamente que ela percebeu o recuo estratégico dele. O que ela não sabia era o motivo. Até porque, meu amigo me disse que gente que tem bafo nunca sabe que tem bafo. E quanto mais bafo a pessoa tem, mais perto de você ela quer falar. Mas o que fazer naquela situação? O que você faria? O desejo dele por ela era intenso, mas seria uma missão impossível (até pro Tom Cruise), manter o obelisco firme e forte frente ao aroma de chulé de dinossauro. Antes de crucificar o meu amigo, diga-me o que você faria nessa situação. A pergunta, obviamente, serve para homens e mulheres, porque o ocorrido pode pegar qualquer um de surpresa. 


Como trocar uma ideia, se é que é possível fazê-lo, com a pessoa que tem bafo? Especialmente se você quer ter mais intimidade, ou ainda, já tem intimidade com ela? Que tipo de abordagem pode ser menos ofensiva? Oferecer um chiclete ou bala parece uma saída, mas vamos combinar que é de curtíssimo prazo, ou será necessário oferecer a todo instante, e isso pode dar bandeira. Medida mais radical seria presenteá-la, semana sim, semana não, com um kit contendo Listerine, spray de mel com própolis e outros apetrechos de guerrilha contra o general bafoso. De qualquer forma, todas essas e outras soluções parecem paliativos. Algo como um band-aid em batida de trem.


E ainda, antes do desfecho da situação vivida pelo meu amigo, uma ressalva: será que cada um de nós pode falar do bafo alheio? Ou seja, não te parece justo se certificar que você também não oferece ao mundo um bafo que derruba vampiro (referência ao alho, tá gente?) antes de criticar os outros? Pesquisando na internet (onde mais se pesquisa hoje em dia?), existem testes simples pra realizar tal verificação. 


Se alguém ainda continua lendo esse texto longo, mas quase tão longo quanto o calvário corintiano antes de consquistar a Libertadores, saberá o que o meu amigo disse a ela, buscando "dar um toque" com relação ao problema identificado. Afinal, ele ainda nutria a esperança de ter aquele projeto bem sucedido de Zeus em suas mãos. Motivado pelo desejo, que ao longo da história fez homens e mulheres fazerem cagadas homéricas (assim como, talvez na mesma proporção, feitos importatíssimos), ele mandou:


- Eu também estou com bafo?


Ela entendeu a indireta. Ele, por outro lado, recebeu um direto de esquerda de mão aberta. E saibam vocês, tapa de mão aberta na cara de homem dói mais que soco no nariz. Não se trata da dor física, mas da moral do macho que é pisoteada quando a sua face é alvejada por cinco dedos estendidos. 


Após o tapa, a despedida aos prantos. Ela entrou num táxi e foi embora. Ele, chateado por ter perdido o seu ex-futuro grande amor, pediu a conta e me ligou. O que que ele me falou, você acabou de saber.

Aflições do macho moderno: dividir ou não a conta, eis a questão!





Olá! Como está você? E os seus amigos?


Pois bem. Lá veio o meu amigo novamente com dúvidas, inquietações e ansiedades.
Dessa vez os temas que alimentaram o papo giraram em torno da condição do macho na modernidade. Por macho, desde já quero esclarecer, entende-se aquele estereótipo que desde o início dos tempos humanos foi se construindo. Certo ou errado, justo ou não, parece que algumas expectativas criaram raízes no comportamento social dos seres do sexo masculino. 


Nem um conjunto de posts da envergadura da Barsa poderia dar conta do tema, por completo. No entanto, o que deu o tom na conversa com o meu amigo foram a velocidade e a pertinência de algumas mudanças, em especial no encontro entre homens e mulheres, machos e fêmeas. 


Aliás, a velocidade crescente parece um fator cada vez mais importante, atropelando (mas não impossibilitando), inclusive, a possibilidade de criação de momentos de reflexão. Não são poucos os pensadores, em especial sociólogos, que defendem o fim da modernidade. Uns falam da pós-modernidade, outros, como Zygmunt Bauman, falam de uma modernidade líquida. Quase todas as obras desse polonês simpático se valem da metáfora da liquidez para tratar da fluência, ritmo, instabilidade, efemeridade dos encontros, relações, compromissos, sentimentos. Sem querer definir o que é bom ou o que é ruim, o desejo é colocar a questão, buscar perspectivas diversas para observarmos os fenômenos em movimento.


Voltemos aos dramas do meu dileto amigo. Ele se apresenta como um macho moderno em crise. Nem falei com ele sobre o que escrevi no parágrafo anterior, pra não colocar lenha na fogueira ou, como propõe a metáfora de Bauman, jogar mais água na bagunça dele. O sentido da crise exposta pelo meu amigo é de ordem mais prática, concentrada, ao menos no papo de ontem, em uma dúvida. 


Como eu não tenho amplitude cognitiva e experimental para acolher, digerir e regurgitar respostas ao amigo, espalho as sementes das intrigas por aqui, torcendo pelo apoio do nobre leitor ou leitora:


Hora de pagar a conta. Dividir ou não, eis a questão! 
Um casal que está se conhecendo combinada uma saidinha. Aqui ou acolá, não importa muito, já que hoje em dia a gente quase paga até mesmo pra respirar. Pensou, pagou. Não pensou (mais comum), pagou também. Duas pessoas vão ao cinema, pode contar com a morte de 50 reais. Se for comprar pipoca, acrescenta mais uns 20 reais, tranquilamente. Meu amigo chegou a me dizer que já pensou em um critério de seleção de companhia: se a pessoa gosta de programas culturais, tem de ter carteira de estudante pra pagar meia. Se não gosta tanto assim de cultura, a carteira é dispensável. Outro exemplo: degustar a culinária japonesa causa boa impressão. Segundo meu amigo, demonstra bom gosto, uma certa elegância minimalista, um ambiente mais aconchegante e outros telecotecos e balacobacos. 
Mas e aí? Como fica na hora da dolorosa, la cuenta maldita? Pode pegar muito mal levar (inclusive e especialmente em termos estomacais) a pessoa a um rodízio de 16,90 cruzeiros. Fugindo desses locais do grupo culinário "Jesus tá chamando", facilmente o jantar ficará na ordem de 100 a 150 reais. Se a bonita beber saquê, salga um pouco mais o copo e a conta. Mas a pior dúvida se concentra no momento do "cê que sabe". 
A noite foi legal, um Woody Allen ou Lars von Trier pra impressionar, depois um sashimi e um temaki, conversa vai, conversa vem, e o meu amigo pergunta a ela: "vamos pra onde?". Segundo ele, quando a noite fluiu legal, pode vir a resposta "cê que sabe". Dizem os especialistas que essa resposta traz consigo uma indicação de que um momento mais aconchegante ou íntimo pode estar se aproximando. 
Traduzindo em miúdos, propor um motel pode não ser uma ofensa moral ou mortal, mas, sim, algo que a companheira esteja esperando. Toca pros redutos que concentram tais empreendimentos comerciais. Ainda segundo o meu amigo, a Raposo Tavares concentra uma vasta gama de ofertas. Aliás, o nome Raposo Tavares exala virilidade. Voltando aos finalmentes da noite bem sucedida, chega a hora de escolher em qual portãozinho luminoso entrar. Alguns dão dicas importantes, com faixas estampadas com os preços do "momento". Outros só permitem a observação das opções quando ocarro já está meio pra dentro e meio pra fora do estabelecimento. Daí meu amigo diz que fica aquela situação: entrar no motel da faixa com tinta vermelha indicando 29 cruzeiros pega mal? E se o cara for valente e parar na frente da tabelinha de preços com o funcionário pedindo RG e perguntando qual é a suíte desejada? Escolhe com hidro ou sem? Com lareira ou com piscina? Tantas variáveis, tantas partituras para a mesma obra: e na hora de pagar a conta?
Importante lembrar, a esta altura da reflexão, que o amigo sabe que tem gente que não liga pra essas coisas, que não se importa de comer num lugar mais simples, que prefere alugar um filme e já ficar em casa e tantos outros etceteras. Meu amigo é pragmático na exposição de suas dúvidas. Ele quer saber no caso específico da situação em que o roteiro descrito acontece. Em que proporção o homem deve assumir a responsa de pagar todas as contas? Total, parcial, nenhuma. Se total, será que isso pode ofender a fêmea moderna? Se parcial, melhor falar abertamente desde o início do papo ou resolver na hora daquela "semgraceira" do vai-e-vém de carteiras e cartões quando chega o garçom com aquela capinha de couro e a maquininha?
Ele me disse que às vezes a mulher diz que quer dividir, talvez mobilizada pela consciência do sofrimento do macho moderno, ou ainda, pela satisfação (muito nobre, aliás) de poder compartilhar também o momento da conta, uma vez que ela trabalha e já conquistou o seu espaço. Mas será que o macho deve concordar de cara? Não concordar nunca? Insistir muito que não precisa, mas na segunda ou terceira vez que ela oferecer, concordar meio que contrariado, dizendo que só aceita para não ser chamado de machista?


Enfim, são tantas as possibilidades que é melhor parar por aqui. Penso que o sentido da questão já esteja colocada. Se você, macho ou fêmea moderno, pós-moderno ou líquido, já passou por situações assim, fica o convite à contribuição por meio de dicas. Meu amigo funciona melhor com exemplos práticos. Portanto, conte como você resolveu ou costuma resolver situações como essas e outras de natureza semelhante. 

É, turma... Tá puxado ser macho na modernidade... 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

"Mentir não é quebra de decoro". Como assim?

Hoje eu estava trabalhando quando o meu amigo me ligou.
Ele estava com uma voz apressada, pedindo pra que eu ligasse a televisão e sintonizasse na TV Senado. 
Para quem ainda não sabe, existe um canal que transmite as sessões que acontecem no Senado Federal, assim como existem outros canais que têm a mesma função no Congresso, Assembleias e Câmaras.
De qualquer forma, não é o objetivo desta mensagem fica falando desses espaços televisivos. 
Voltando ao meu amigo, ele me disse que o Demóstenes Torres, que agora felizmente já pode ser chamado de ex-senador, estava fazendo um discurso na tribuna. Como eu não consegui encontrar uma televisão a tempo, recebi há instantes um vídeo um trecho que achei surreal em tal fala.
Como o vídeo está abaixo, não repetirei na íntegra o que o rapagão disse. O que importa aqui é que ele disse que "mentir não é quebra de decoro". E mais, que se esse fosse o critério, não sobraria nenhum por lá.
Mas é o ó do borogodó! O cara escolheu (porque ninguém o obrigou) ser representante público, e tem o descaramento de dizer que está "de boa" mentir no exercício de suas funções.
Para não pagar de inocente, preciso concordar com ele que sobrariam muito poucos se passássemos um pente fino na peruca suja e cheia de caspa que é a politicagem (diferente de política) no Brasil. Mas, somente na hora de levar um chute no traseiro, o cara levantar a voz pra dizer isso, é sinal de muita covardia e desespero. Por que ele não tem a mesma coragem pra apontar o dedo e dizer quem é que mente, com exemplos que ele deve conhecer tão bem? 
Vai pra casa, Demóstenes, vai. Aliás, deve ser uma mansão paga em grande medida por cada um de nós. 
Com relação ao fato de eu concordar que sobrariam poucos se a gente fosse mais atento às mentiras contadas, só enxergo um caminho: seguir intensificando a fiscalização, reduzindo aos poucos essa herança maldita que recebemos de nossa própria história. 
Beijos e sorrisos!


Clique aqui para ver o vídeo.


Trogloditas não entendem múltiplas formas de amar

Olá! Boa noite.
Ontem eu e meu amigo estávamos conversando sobre a questão do preconceito frente às opções sexuais de cada um. Ele me falou, pasme você, que ainda existem pessoas que se acham no direito de julgar e condenar alguém exclusivamente pela forma escolhida de amar. Será possível isso? Que tipo de troglodita existencial ainda é capaz de cometer dois erros tão óbvios em uma mesma atitude? O primeiro: se achar no direito de julgar quem quer que seja; o segundo: acho que já ficou claro.
Penso que, enquanto as opiniões ficam no plano da exposição verbal, por mais que não concordemos, devemos respeitar. O que não consigo suportar é quando a crítica se transforma em perseguição, agressão (em especial as físicas) e também a perpetuação de piadinhas que causam sofrimento a quem é vitimizado pelo suposto humor. 
Meu amigo também me falou que tem muita gente que acredita que a Parada Gay deixou de ser, há muito tempo, um evento "politizado" para se transformar em "exibicionismo". Não tenho competência para avaliar essa suposta transição. No entanto, talvez realmente seja o caso de se pensar, pois o foco não é, em minha opinião, o incentivo ao turismo (seja ele sexual ou não), mas, sim, a celebração da tolerância à diversidade.
Sendo assim, torço para que todos os eventos que promovem o respeito ao indivíduo (em todas as suas manifestações sexuais, religiosas e outras) sigam em paz. 
Até porque, no plano das decisões individuais que não desrespeitam o espaço do outro, cabe somente ao decisor escolher como caminhar pela vida. 
Para celebrar a diversidade das formas de amar, segue um vídeo!
Beijos e sorrisos, meus e do meu amigo!